quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Tucanos não suportam oposição e ameaçam líder do PT com Comissão de Ética


Em 2011, o projeto neoliberal tucano foi finalmente desmascarado em Minas. O Movimento Minas sem Censura uniu parlamentares estaduais e federais pró-Dilma, movimentos sociais, sindicais e sociedade, imprimindo nova marca na forma de se fazer política no Estado e uma verdadeira renovação do legislativo mineiro. Com muito esforço e trabalho, iniciou-se o processo de rompimento de um verdadeiro Estado de Exceção. Hoje, o parlamento mineiro respira mais democracia e menos censura política, amplificando a voz popular há algum tempo sufocada pelo autoritarismo do governo “Anastécio”.

Real oposição na Assembleia Legislativa e reconhecido nacionalmente, O Movimento Minas sem Censura, do qual o deputado Rogério Correia é líder, rompeu a mordaça midiática e a conivência de instituições que deveriam ter mais autonomia (TCE, MPE, TJ), trazendo à tona graves problemas do Estado que estavam escondidos por falácias como o déficit zero e o choque de gestão. O Movimento exigiu providências, denunciando escândalos como os do caso Ipsemg/Fasano, das obras superfaturas do Mineirão, da Cidade Administrativa (Brasilinha de Aécio), do caos no serviço público, da Rádio Arco Íris, do Aero-Aécio, dos fichas-sujas, entre tantos outros.

Em 2012, a Caravana Minas sem Censura vai pegar a estrada à procura de soluções para as diversas dificuldades enfrentadas pelo povo mineiro, levando ao conhecimento da sociedade qual é a Minas Real. Através desse valioso instrumento de luta e mobilização, a oposição institucional somada à oposição popular vai construir grande movimento alternativo ao governo neoliberal tucano.

Essa atuação forte e organizada da oposição tem tirado o sono dos tucanos. Após perseguição feita contra sindicalistas do Sindieletro e professores da rede estadual, com utilização até da polícia secreta, entre diversas outras retaliações autoritárias aos seus opositores, o PSDB de Minas protocolou representação descabida e sem provas na Comissão de Ética da Assembleia Legislativa contra o mandato do deputado Rogério Correia. A atitude evidencia um golpe contra a democracia em mais uma clara tentativa de calar e intimidar o líder do PT e do Movimento Minas sem Censura.

A desculpa dada foi a fiscalização feita em 2006 pelo mandato popular de Rogério sobre a formação de caixa dois na empresa de Furnas, beneficiando de forma irregular em especial políticos do PSDB e do DEM. A estratégia para se evitar o golpe tucano está sendo definida judicialmente, mas desde já o mandato de Rogério agradece à rede de apoio que tem recebido, inclusive nas redes sociais, através das manifestações de solidariedade dadas por aliados, partidos políticos, deputados da oposição, movimentos sociais e por todos aqueles que acreditam na defesa do poder democrático-popular.

Ironicamente, o senador mineiro Aécio Neves disse em artigo publicado no Jornal Folha de São Paulo, nesta segunda-feira, 26/12, que se mantém fiel em “não cair na tentação fácil de tratar adversário como inimigo, de confundir país com governo”. Balela. Será que ele já se esqueceu do episódio em que deixou a mão de Rogério estendida no ar, negando cumprimentá-lo na ocasião do velório do ex-presidente da República, José de Alencar? Além disso, se ele estivesse dizendo a verdade, com certeza teria se posicionado contrariamente à decisão golpista do seu partido, ou alguém acredita que o PSDB, através de um parente seu, teria entrado com representação contra o líder do PT no Estado sem o consentimento de Aécio?

Clique aqui para saber toda a verdade sobre a Lista de Furnas

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A volta da ditadura em Minas Gerais

A volta da ditadura em Minas Gerais

Por Altamiro Borges

O PSDB de Minas Gerais ingressou neste semana com representação, assinada por seu vice-presidente, Domingos Sávio, pedindo ao Conselho de Ética da Assembléia Legislativa a cassação do deputado estadual Rogério Correia (PT). À representação foi anexada uma "reporcagem" da Veja sobre a suspeita "Lista de Furnas". O pedido se dá sob o argumento de que o petista faltou com o decoro parlamentar. Caso seja aprovada na casa sob hegemonia tucana, será o retorno da ditadura em Minas Gerais.



Como afirma Márcio Fagundes, do jornal Hoje em Dia, "a sigla tucana faz voltar o tempo, aliás, tristes, nos anos 60, quando a Casa, sob tutela militar, deu fim aos mandatos populares dos deputados Dazinho, Clodesmith Rianni e Sinval Bambirra. Também o deputado Sávio Souza Cruz (PMDB), no início de dezembro, enfrentou problema similar. Ele havia dito que a Assembléia estava de joelhos para o Executivo".

Os filhotes de Aécio Neves

O deputado Rogério Correia já exibiu laudo de exame documentoscópico (mecanográfico e grafotécnico) do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal para rechaçar a acusação de falsificação de documentos na chamada Lista de Furnas. "Não existe um processo contra mim na Justiça", assegura. Ele deve em entrar com habeas corpus para garantir o exercício do seu mandato, conquistado nas urnas.

Diante do perigo de grave retrocesso, três partidos divulgaram notas oficiais em solidariedade ao deputado perseguido pelos tucanos mineiros, filhotes do ex-governador Aécio Neves. Reproduzo abaixo:

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PCdoB defende liberdade de expressão para Rogério Correia

Em nome da Executiva do PCdoB vimos manifestar nossa solidariedade ao deputado Rogério Correia que acaba de ser atacado em seu sagrado direito de defender idéias e apoiar os que lutam por melhores condições de vida.

Ao longo de sua atividade parlamentar o deputado Rogério Correia jamais se furtou a seu compromisso na defesa de um país justo, de um estado a serviço de sua gente e de compartilhar a luta dos que buscam melhores salários e mais dignidade.

Estranhamente o PSDB, um partido que tem a obrigação de respeitar a Constituição esquece o seu Art. 5º Inciso IV que pontua “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato” e entra no Conselho de Ética contra o parlamentar petista.

Em nome da liberdade ainda que tardia, confiamos nos integrantes do Conselho de Ética da ALMG que resgatarão o sagrado direito político dos que querem melhorar o país.

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Nota de solidariedade do PMDB-MG


Fiel aos seus valores fundacionais e aos históricos compromissos com a Democracia, a Liberdade e o Estado de Direito, o Diretório Estadual do PMDB-MG, através de sua Executiva, vem tornar pública sua solidariedade ao Deputado Estadual Rogério Correia, líder da bancada do PT na ALMG.

Com efeito, o PSDB-MG protocolou representação contra o Deputado Rogério na Comissão de Ética da Assembleia de Minas. Ao fazê-lo, mais que ao Deputado, atingiu-se a Liberdade e ao Estado de Direito, tão ameaçados na Minas de Hoje.

Sem apresentar qualquer prova, ou um mínimo indício que fosse a representação pretende tão somente calar uma das principais vozes de oposição no Estado, buscando transformar o Conselho de Ética da ALMG em instrumento intimidatório ou em verdadeiro Tribunal de Exceção.

Solidário ao Deputado, o PMDB-MG chama a atenção das forças Democráticas e do povo de Minas para o risco que ronda, hoje, as nossas instituições.

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Nota de apoio do PT de Minas Gerais

O Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores vem a público manifestar seu irrestrito apoio ao Deputado Estadual Rogério Correia, integrante de sua executiva.

Rogério é líder de nossa bancada na Assembleia e tem se destacado na organização da oposição, articulando com os movimentos social e sindical que este ano travaram um firme embate com o governo tucano.

Ao demonstrar que choque de gestão, déficit zero e outras ações publicitárias, nada mais são que peças de ficção, o líder do Movimento Minas sem Censura é perseguido pelo PSDB com uma representação junto à Comissão de Ética da Assembleia.

Comprometido com a justiça social e transparência, O PT/MG vem a público denunciar mais esta tentativa de calar aqueles que, no legítimo exercício de suas atividades públicas, não se intimidam e não se calam!

Conclamamos os trabalhadores(as) e a sociedade mineira e brasileira a reagirem à esse atentado a democracia e a se solidarizar com o companheiro Rogério Correia.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Globo e as barbas do vizinho

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Embora não haja qualquer sinal de que possamos ter por aqui qualquer arremedo de legislação que regule democraticamente as concessões públicas na área de comunicação – as concessões, nada a ver com liberdade de imprensa ou de expressão – o jornal O Globo, hoje, age daquela forma descrita no popular ditado de “colocar as barbas de molho, porque as do vizinho estão em chamas”.

O vizinho, no caso, é o Clarín, um conglomerado semelhante ao que é aqui a Globo, com TV, rádios, jornal, internet, produtoras de filmes e agência de notícias. E que, como a Globo, vicejou à sombra da ditadura, como um cogumelo, para relembrar a expressão usada por Leonel Brizola.

Ano passado, o Congresso argentino aprovou e a presidenta Cristina Kirchner sancionou a Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual, que estabelece regras para o concentradíssimo sistema de rádio e televisão no país. Para entende-lo, é preciso saber que a televisão argentina é, basicamente, a cabo. Só em sete cidades, além de Buenos Aires, onde há cinco canais de TV aberta, há emissoras de recepção livre.

A nova lei atacou de frente a concentração da propriedade nos meios de comunicação, estabeleceu parcelas mínimas de conteúdo nacional, de produção das próprias emissoras e de produtoras independentes, além de reservar um terço do espectro radioelétrico para organizações sem fins lucrativos.

É esse o fundo da ordem judicial que determinou a intervenção na Cablevisión, uma das empresas de TV a cabo - que é a TV de 70% dos argentinos. A reação do pessoal grupo obrigou a Justiça a requerer garantias policiais, que não partiram, portanto, do Executivo.

A batalha se dá agora em torno da Papel Prensa SA, uma empresa criada por uma associação entre grupos privados e o Estado argentino. Durante a ditadura, as ações da empresa que pertenciam ao grupo Graiver – logo após a morte de seu líder David Graiver, num mal-explicado acidente de aviação - o controle da empresa foi transferido, por preço irrisório e depois de seus integrantes serem detidos sob acusação de colaborar com os Montoneros – para o Clarín e o La Nacion, unha e carne com o regime militar.

Independente das obscuridades do passado, os dois jornais se beneficiavam hoje de duas vantagens que os demais não tinham. A primeira, compravam grandes quantidades antes de estabelecerem aumentos de preço; a segunda, recompravam seus encalhes quase ao preço de capa, revendendo-os para a empresa, com o fim de reciclagem.

Ontem o Senado argentino aprovou lei determinando que o comércio de papel de jornal é de interesse público. Isso não quis dizer estatiza-lo, desapropriando a empresa, mas que serão fixados preços únicos para a venda de papel a qualquer empresa pelo mesmo preço e o mesmo para a recompra para reciclagem.

É a isso que chamam de “atentado à liberdade de imprensa”.

Lá, como aqui, os privilégios obtidos com o convívio com o poder – especialmente com o poder autoritário – deixaram torta a boca da mídia. Não é novidade. Aqui, Samuel Wainer foi linchado pela imprensa por ter a Última Hora empréstimos no Banco do Brasil, embora todos – Globo, Diários Associados e até a Tribuna da Imprensa de Carlos Lacerda – os tivessem, e muito maiores.

É por isso que, mesmo com léguas a nos separ

Inglaterra estuda retomar ações militares contra Argentina

O navio Cardiff ancora em Port Stanley

Da Redação
Vinte e nove anos depois da Guerra das Malvinas, quando a Argentina, em plena decadência de sua ditadura militar, desafiou a Inglaterra pela soberania do território localizado no Atântico Sul, a tensão entre os dois países, que nunca deixou de existir, retorna com força crescente. Em 1982, isolada e enfrentando uma severa crise interna, a Argentina perdeu o conflito.

Atualmente, o contexto é outro. Após a reunião do Mercosul nesta semana, quando Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai concordaram em não permitir que embarcações com a bandeira das ilhas atraquem em seus portos, o jornal britânico Daily Mail publicou uma reportagem afirmando que as autoridades militares da Inglaterra estão elaborando um plano de defesa para as Malvinas.

De acordo com o periódico, militares britânicos pressionam o governo do primeiro-ministro conservador David Cameron para que um submarino nuclear seja enviado à região – que está sob controle da Inglaterra desde 1833.
Outro fator que deve intensificar ainda mais a tensão entre Argentina e Inglaterra é a previsão de uma visita do príncipe Willian às ilhas no ano que vem. Ainda na reportagem do Daily Mail, consta que o ministro da Defesa britânico, Philip Hammond, teria sido informado, em Londres, sobre a possibilidade de um novo conflito bélico com a Argentina no caso de a situação se agravar.
Funcionários da inteligência disseram ao ministro e ao Conselho de Segurança Nacional que, no momento, “não há ameaça militar factível” às ilhas por parte da Força Aérea Argentina. Entretanto, o Daily Mailreproduz a fala de um oficial militar da Inglaterra que sustenta que “há uma ameaça e adotaremos medidas de prevenção rapidamente”, acrescentando que “confiamos que os argentinos não podem sequer atracar um barco pesqueiro nas Malvinas, mas é importante demonstrar que somos sérios quanto a nossas obrigações”.

Na prática, além do efeito simbólico de solidariedade à reivindicação da Argentina, a proibição imposta por Brasil, Uruguai e Paraguai às embarcações malvinas afetará cerca de 25 barcos, na maioria pesqueiros com licença espanhola.

Com informações do El País do Uruguai. 

Por que as Malvinas são estratégicas?






O território das Ilhas Malvinas, também conhecidas como Ilhas Falkland, é, talvez, a área em disputa mais importante e transcendente do cone sul. O observador comum poderia se perguntar por que um arquipélago com somente 2.000 habitantes, localizado a 14 mil km de Londres, é tão ferreamente defendido pela Grã-Bretanha, Estado que de fato exerce a soberania sobre o território.

A Argentina mantém um pleito internacional sobre as ilhas. De fato o país sul americano conseguiu êxito diplomático ao obter resoluções da Assembléia Geral da ONU, as quais orientam as partes a sentar-se em mesa e negociar um acordo que satisfaça as duas nações.
A pergunta obrigatória: quais são os pontos mais importantes que impulsionam os britânicos a aferrar-se a estas ilhas longínquas? Por que o estado inglês continua destinando fundos à defesa militar das Malvinas quando enfrenta uma severa e inédita crise interna? Por que fazem ouvidos moucos ao pleito argentino que encontrou apoio em ascendentes e influentes potências, como o Brasil?

Em seguida, os motivos que, creio, Londres considera transcendentes ao momento de tomar suas decisões relativas a este assunto.

O Estreito de Magalhães

O comércio internacional entre os oceanos pacífico e atlântico é feito através do canal de Panamá. Aberto em 1914 o canal permite que os navios atravessem o continente americano sem ter que viajar ao extremo sul e navegar as frias e tormentosas águas do Cabo Horn.



Em vermelho a rota comercial marítima


Embora pareça impossível ou ao menos, pouco provável que algo aconteça no Canal do Panamá, no caso de uma interrupção dessa passagem, a presença permanente de tropas britânicas e da OTAN nas ilhas Malvinas permitiram controlar o comércio que transitaria pelo potencialmente estratégico Estreito de Magalhães.

Leve-se em conta que as águas do norte do Canadá permanecem congeladas durante o inverno, por isso caso existam inconvenientes no Panamá, Grã Bretanha e as potências da OTAN encontrariam nas Malvinas uma plataforma excelente para monitorar uma eventualmente importantíssima rota do comércio marítimo mundial.

O petróleo

Com o barril de óleo avaliado em cerca de US$ 100, a exploração off-shore de poços petrolíferos é uma atividade de alta rentabilidade. Diferentes empresas britânicas levaram plataformas à zona e iniciaram exploração em busca do ouro negro. As empresas do Reino Unido, fazendo uso da soberania que o país tem sobre o mar que rodeia as ilhas, realizam uma atividade que pode, potencialmente, gerar recursos de incalculável valor econômico e estratégico para todo o império britânico, num mundo onde as matérias primas são cada vez mais valiosas.

A Antártida

A Antártida é um continente de 14 milhões de quilômetros quadrados, livre de influência política, defendido pelo Tratado Antártico de 1961, onde todos os estados signatários se comprometem a congelar pleitos de soberania sobre o continente branco.

De qualquer forma, os países localizados geograficamente perto da Antártida, reclamam soberania sobre uma porção de tal continente. Pois bem, as Ilhas Malvinas funcionam como um argumento para que a Grã-Bretanha faça a sua demanda territorial sobre uma porção da Antártida. O potencial valor desse pleito é certamente impossível de descrever, a água potável e infinitos recursos naturais e minerais transformam a Antártida em uma reserva de vida para a humanidade toda, se pensamos nos próximos séculos. A influência britânica sobre estes recursos depende, sem dúvida, da permanência das Ilhas Malvinas sob seu controle absoluto.

Perspectiva Hemisférica

Para terminar de entender o valor deste arquipélago e pôr em perspectiva hemisférica devemos mencionar que dentro dos territórios britânicos de ultramar na região, somam-se às ilhas Malvinas, as Geórgias e Sandwich do Sul, e as ilhas de Santa Helena, Tristão da Cunha e Ascensão. Se observarmos um mapa, é possível notar como esse cinturão insular permite ao império britânico presença na totalidade do Atlântico Sul, desde as costas da Argentina, até o sudoeste africano.





De fato, Londres faz constantes pleitos diplomáticos às Nações Unidas solicitando soberania sobre milhares de quilômetros quadrados de subsolo marinho e de ilhas vulcânicas dessa região.

Tendo clara compreensão da importância estratégica e econômica desta imensa porção do oceano atlântico, a Grã Bretanha não vai dar o braço a torcer no que se refere às Malvinas.


Original do blog: Equilíbrio Internacional  
Tradução: Tecedora 

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Governo argentino luta contra o monopólio do papel-jornal e da TV a cabo. Jornalões brasileiros atacam


Seguindo a linha da grande imprensa internacional e do governo norte-americano, a velha mídia brasileira só se lembra da existência da América Latina quando resolve atacar os governos que primam pela soberania nacional. A defesa corporativista entre os veículos da imprensa de direita não respeita fronteiras, não respeita a sociedade, e não respeita a verdade.

Desde que Cristina Kirchner, presidenta reeleita da Argentina, conseguiu aprovar na Câmara de Deputados o fim do monopólio dos grupos Clarín e La Nación sobre o papel-jornal, os jornalões brasileiros começaram a espernear. Para eles, quebrar o monopólio do papel é “mordaça argentina”, como disse o jornal Zero Hora, ou “tentativa de dominar a oposição”, como disse o Estadão.

A única fábrica de papel-jornal da Argentina é controlada pelos dois grupos que controlam também a quase totalidade da mídia argentina. Mais ou menos como acontece no Brasil, esse controle foi gestado e é mantido através de abusos econômicos e conluios políticos, incluindo parcerias com as respectivas ditaduras militares, lá e aqui. É o caso da questão da Papel Prensa, a fábrica em questão, adquirida pelo Clarín e pelo La Nación durante a Ditadura argentina, e declarada agora um espaço de interesse público pelo governo. Como escreveu a blogueira Renata Mielli, “na Argentina os proprietários da única fábrica de papel-jornal são os dois maiores grupos de comunicação (produtores de conteúdo) do país (…). Esta propriedade cruzada é sem dúvida nenhuma um risco à pluralidade e à diversidade da informação na Argentina, uma vez que quem controla a matéria-prima tem interesses comerciais para além da venda do papel”.

Na manhã desta terça-feira, mais uma cena da luta do governo argentino pela democratização da mídia no país. Sob acusação de concorrência desleal, a emissora Cablevisión, de propriedade do grupo Clarín, foi objeto de busca e apreensão por parte da polícia e de membros do Judiciário. O Estadão e a Folha de S. Paulo se apressaram em unir esse fato à questão da Papel Prensa e atacar o governo de Cristina Kirchner.

Segundo a manchete da Folha, o cumprimento de uma ordem de busca e apreensão pode ser relatado da seguinte forma: “Empresa do grupo argentino Clarín é invadida por militares”. O final da primeira parte dessa mesma matéria mais uma vez tenta se apropriar de um conceito para distorcê-lo e validar a tese: “A ocupação desta terça-feira é mais um capítulo da longa batalha que o governo de Cristina Kirchner trava com a imprensa independente da Argentina”. O que a Folha considera imprensa independente? A aliança do Clarín com os grupos mais conservadores da Argentina pode ser chamada independência ou é, na verdade, apenas alinhamento a setores que tentam inviabilizar os governos progressistas dos Kirchner? Bom, se lembrarmos que a própria Folha refere-se a si mesma como jornal independente, podemos encontrar as respostas sem grande esforço.

Mas a reportagem da Folha, apesar da manchete que distorce a realidade e tenta despertar pânico com a “invasão” por “militares”, e ainda que penda claramente a favor do Clarín, ao menos em sua segunda parte, quando fala da disputa em torno da Papel Prensa, apresenta os argumentos do governo. O Estadão não o faz. O título de sua matéria vai pelo mesmo caminho (“Militares argentinos invadem empresa do grupo Clarín, diz jornal”), e o trecho em que fala sobre a Papel Prensa apresenta um tom completamente editorializado, tentando tornar objetiva e natural uma conclusão absolutamente subjetiva do autor: “O governo usa sua participação acionária na Papel Prensa, única fornecedora de papel jornal do país, para tentar dominar a oposição do Clarín e do La Nación, maiores jornais do país”.

Citando mais uma vez o excelente texto de Renata Mielli, “a imprensa brasileira omitiu que o projeto é fruto de dezenas de audiências públicas que foram realizadas em toda a Argentina e que envolveram a sociedade e proprietários de mais de 120 jornais. Ignorou que a Papel Prensa é alvo de denúncias por praticar preços diferenciados e abusivos de acordo com o veículo. Não informou que o projeto prevê que os preços do papel-jornal praticados passarão a ser os mesmos para todos os veículos (sem privilégios) o que irá garantir a democratização do acesso à matéria-prima para a produção dos jornais”.

*Leia AQUI a reportagem do bom jornal argentino Página 12 sobre a operação de busca e apreensão na Cablevisión.

*A leitura do artigo de Renata Mielli sobre a disputa em torno da Papel Prensa é fundamental para a compreensão do problema.

Intervenção da justiça no canal a cabo do Clarin. A mídia brasileira vai falar em liberdade de expressão?


Vai ser interessante notar como a imprensa tradicional brasileira vai retratar a intervenção na empresa Cablevision, iniciada hoje pela justiça argentina a partir de uma denúncia de concorrência desleal que partiu de outra empresa privada do setor, o Supercanal.

O jornal argentino Pagina 12 não acusa a presidenta Cristina Kirchner de censura, ataque à liberdade de imprensa e outras coisas. Relata como o grupo Clarin, ao montar uma parceria com outra empresa estaria, segundo a justiça, praticando concorrência desleal.

Porém, o UOL, em notícia que estava na home page na tarde desta terça, insinuava exatamente censura e ataque à liberdade de expressão.

Sim, apenas insinuava. Apesar de usar o termo invasão para designar a ação da justiça, o portal da Folha delega ao Clarin uma tímida acusação contra o governo argentino. Em outro momento, o UOL talvez já estivesse vociferando. Mas o episódio em torno do livro “A Privataria Tucana”, que sem dúvida colocou todos os argumentos que restavam à velha mídia brasileira em xeque, deve estar fazendo os editores do UOL e de outros veículos pensarem duas vezes antes de desfiar o velho rosário.

O veneno que a velha mídia criou com tanto desvelo e que inoculou por tantos anos em seu público agora a esta paralisando.


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A vitória parcial é dos “doidos” e “sujos”: CPI da Privataria Tucana vem aí!


por Rodrigo Vianna

A “Folha” levou uma semana para falar no livro de Amaury. Talvez esperasse as orientações do “comitê central”. As orientações parecem ter chegado sem muita clareza. O jornal da família Frias, num texto opaco que nenhum jornalista teve coragem de assinar, levanta suspeita não contra Serra e sua turma de especialistas em “offshore” – mas contra o premiado repórter Amaury Ribeiro Jr.

A “Folha” não se preocupou com a “ficha” do Bob Jefferson antes de noticiar o chamado “Mensalão”. O que importava ali era a denúncia. Bob falou e a mídia correu para “provar” o roteiro que ele indicou (sem nenhuma prova, diga-se). Havia verdades na fala de Bob, mas tambem alguns exageros. O “Mensalão” propriamente dito (que a Globo tentou transforma no “maior escândalo da história”) não existia no sentido de um pagamento mensal a deputados governistas. Mas havia, sim, um esquema subterrâneo, que o PT parece ter herdado dos tucanos de Minas.

Da mesma forma, a “Folha” não se preocupou em saber se o homem que denunciava o Ministro Orlando Silva era ou não um bandido. Valiam as acusações, sem provas. O roteiro estava pronto. O ministro que provasse a inocência.

Com Amaury e a Privataria Tucana, há provas aos montes. Há documentos no livro. Mais de cem páginas. E há o currículo de um repórter premiado. Mas a “Folha” faz o papel de advogada do diabo. Quem seria o “coiso ruim” que a “Folha” quer defender?

Outro dado curioso. Lula foi ao poder e jamais investigou as privatizações. Havia um acordo tácito (e tático) para não promover caça às bruxas. Na Argentina, no México, na Bolívia, a turma dos privatas foi demolida. Aqui no Brasil, eles dão consultoria e palestras. Coisas do Brasil. Feito a jabuticaba.

Dez anos depois, a história das privatizações ressurge, pelo esforço e a coragem de um jornalista que alguns consideram “doido”, por mexer com “gente tão poderosa”. Amaury tem aquele jeito afobado, e o olhar injetado que só os sujeitos determinados costumam mostrar. Agora, querem desqualificá-lo. Covardia inútil.

Até porque um outro sujeito chamado de “doido”, o delegado e deputado federal Protógenes, botou o livro debaixo do braço e saiu coletando assinaturas para a CPI da Privataria. Nessa quinta-feira, dia 15 de dezembro, Protógenes anuncia ter atingido mais de 171 assinaturas.

A CPI da Privataria vem aí. Contra a vontade de Otavinho, Ali Kamel, Civita e dos colunistas histéricos que servem a essa gente. Meia dúzia de blogueiros sujos (obrigado, Serra) avisou o público: há um livro sobre as privatizações na praça. A brava “CartaCapital” – de Mino Carta, Sergio Lirio e Leandro Fortes – publicou 12 páginas sobre o livro. E os leitores nas redes sociais espalharam a notícia.

Verdade que setores da grande imprensa furaram o bloqueio – a notícia saiu na Record, Record News, Gazeta, Portal Terra… Mas e na Globo e na CBN que convocam “marchas contra a corrupção”? Silêncio dos cemitérios sicilianos.

Não importa. O barulho foi feito pelos blogs, pelas redes sociais e pelos poucos jornalistas que não se renderam ao esquemão do PIG. É uma turma que colegas mais bem estabelecidos costumam chamar de “gente doida da internet”.

Pois bem. A conexão dos “doidos” e “sujos” ganhou o primeiro round nesse episódio da Privataria. Como já havia ganho no caso da bolinha de papel em 2010.

Vejam bem. Não foi o PT, nem a máquina petista (parte dela, aliás, sai mal do livro - por conta do acordo na CPI do Banestado, e da guerra interna no comitê petista em 2010 narrada por Amaury) que fez barulho. Não. Foi a turma aqui da internet.

O Serra levou outra bolinha na testa. Essa deve ter doído de verdade. Serra chamou o livro de “lixo”. De fato, as operações narradas por Amaury cheiram mal. A Privataria cheira mal. E o livro é pesado, recheado de documentos.

Será que Kamel convocará o perito Molina para provar que o livro não existe? O problema será convencer os leitores dos blogs e os quase 200 deputados que já assinaram o pedido da CPI. A primeira – em muitos anos - que pode vir sem ter sido precedida de campanha movida pela velha mídia.

Essa CPI, se vingar (e ainda há armadilhas no caminho), virá contra a velha mídia. Será a vitória dos sujos e doidos contra o bloco dos hipócritas.

Escrevinhador 

"Literatura menor" de Aécio


Brasil é a 6ª potência mundial



O Reino Unido já não é a 6ª maior potência económica do mundo, tendo sido ultrapassado pelo Brasil, que passou a ter este ano o sexto maior produto interno bruto (PIB) medido em dólares à taxa de câmbio corrente.

A informação é da empresa de consultadoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU), confirmando assim, e antecipando, as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) para 2011.

Tanto o FMI como a EIU e o Business Monitor International (BMI) haviam previsto que o Brasil ultrapassaria até ao final do ano o Reino Unido, passando a ocupar o lugar de sexta maior economia mundial.

De acordo com as projeções da EIU, o Brasil perderá a 6ª posição para a Índia em 2013 mas voltará a recuperar o lugar no ranking em 2014, ano do Mundial de Futebol, ao ultrapassar a França.
PIB cresce acima dos países ricos


A diferença do PIB estimado para o Brasil até ao final do ano - 2,44 mil milhões de dólares (mesmo considerada a redução da projeção de crescimento de 3,5% para 3%) e o PIB do Reino Unido (2,41 mil milhões, com crescimento de 0,7%) é de 1,2%, diferença que poderá facilmente triplicar.

Segundo o jornal "Folha de São Paulo", a subida do Brasil no ranking das maiores economias do mundo deve-se à crise dos países desenvovlidos. De acordo com a agência Terra, a tendência de ascensão dos países emergentes era esperada por especialistas há anos, mas acentuou-se devido à crise global.

A EIU refere que o Brasil continuará a subir no ranking das grandes potências, de modo a que até ao fim da década - de acordo com as projeções - o PIB brasileiro será maior do que o de todos os países europeus.

Segundo o "The Word Economy", de Angus Maddison, em 1820 o PIB britânico, sem as colónias, era 12,4 vezes maior do que o do Brasil; em 1870 era 14,3 vezes superior; e em 1913, 11,7 vezes mais elevado.

Em 2009, o PIB do Brasil ultrapassou os do Canadá e Espanha, passando a ser o oitavo do mundo, e em 2010 ultrapassou o de Itália.

De acordo com a "Folha", o crescimento do PIB que coloca o Brasil em posição favorável en relação às maiores economias mundiais é influenciado também pelo aquecimento da economia em 2010, pautada por uma política monetária de estímulo ao consumo - com uma série de subsídios e isenções de impostos iniciada no pós-crise.

"Enquanto a maioria das economias desenvolvidas ainda gatinhava na recuperação, o Brasil registou no ano passado o maior crescimento desde 1986, chegando a 7,5%. Em 2009, no entanto, a variação da economia brasileira foi negativa."

O jornal ressalta, ainda, que houve uma desaceleração na relação trimestral este ano, influenciada pela contenção do crédito, da valorização do câmbio, de juros mais elevados e do consequente arrefecimento da indústria provocado por estes fatores.

Ler mais: http://aeiou.expresso.pt/brasil-e-a-6-potencia-mundial=f693998#ixzz1gj4d0LYL

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Líder do PT no Senado pede CPI da Privataria. Tucano reage


O líder do PT, Humberto Costa (PE), defendeu nesta quarta-feira (14/12) que o Ministério Público, a Polícia Federal e Receita Federal reabram as investigações sobre o processo de privatização das teles ocorrido no governo FHC. A declaração foi dada aos jornalistas logo após discurso no plenário do Senado, quando o parlamentar chamou a atenção para a importância do livro “A privataria tucana”, que traz documentos oficiais reforçando as suspeitas de fraudes contra o patrimônio público ocorridas no processo das privatizações no setor de telecomunicações.

O senador pernambucano destacou a contundência do material publicado pelo jornalista Amaury Ribeiro Jr, que traz 112 páginas de documentos oficiais obtidos legalmente durante a investigação.

“Os documentos são contundentes e mostram como essas pessoas conseguiram lavar bilhões de dólares em operações engenhosas e interná-los novamente no Brasil, em negócios de aparência legal. Os documentos são claros e não deixam sombras de dúvidas quanto à participação de dirigentes tucanos e familiares do ex-governador José Serra em negócios escusos, com dinheiro sujo desviado da venda das estatais de telefonia nos anos 90 pelo governo Fernando Henrique Cardoso”.

Segundo Humberto Costa, os documentos falam por si só ao tornar público esquema de lavagem de dinheiro com a participação de líderes do PSDB e pessoas próximas do ex-governador José Serra que “conseguiram mandar para fora do país e trazer para o Brasil dinheiro supostamente proveniente de propinas”, disse. “O livro vale a leitura e, imagino, será objeto de algumas providências legais a serem tomadas por procuradores da República. Até porque muitos dos crimes descritos no livro não prescreveram”, disse.

Para ele, o PSDB precisa entrar no debate em benefício da sociedade. “Quero dizer que aguardo a oportunidade de debater as denúncias trazidas em “A Privataria Tucana” com os nobres colegas do PSDB. Esse vai ser um debate importante a ser feito em benefício da sociedade brasileira e mostrar a verdadeira natureza das privatizações realizadas pelo Brasil no final dos anos 90. É chegada a hora de o Congresso Nacional discutir a fundo uma legislação mais eficaz contra a lavagem de dinheiro”, afirmou.

Diante do sucesso de vendas – as duas edições esgotaram e há uma lista de encomendas nas livrarias brasileiras -, Humberto Costa prevê que nos próximos dias jornais e revistas devem dedicar algumas páginas ao livro “A Privataria Tucana”. Até porque, lembrou o parlamentar, as primeiras denúncias sobre os bastidores das privatizações surgiram em reportagens da revista Veja e da Folha de S.Paulo.

Coisa inusitada

Logo depois de Humberto Costa, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) subiu à tribuna para contestar o discurso do líder do PT, afirmando que o PSDB está fazendo avaliação sobre quais providências serão tomadas pela legenda. Nunes disse que a publicação será objeto de escrutínio cuidadoso. E que aqueles que difundiram calúnia contra o ex-governador José Serra irão “pagar um preço alto por isso”.

Sem dar explicações sobre as denúncias envolvendo as privatizações das teles, Aloysio Nunes – então chefe da Casa Civil na gestão FHC – aproveitou para acusar o PT de espionagem dizendo estranhar que o PT, “useiro e vezeiro em espionar a vida dos outros por meios ilegais”, não tenha conseguido, em nove anos de poder, investigar eventuais irregularidades na venda das empresas.

Em resposta ao senador tucano, Humberto Costa disse que “quem lê o livro vai descobrir que quem gosta e faz dossiês não é o PT e nem os grupos de esquerda”, acrescentando que “são vários os casos em que o jogo bruto da política foi usado por integrantes do PSDB até mesmo contra gente do próprio partido”, o que ele classificou como uma “coisa inusitada”, em referência à informação publicada no livro de que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) teria sido investigado a mando do seu colega de partido, o ex-governador José Serra.

Ao falar que não fez qualquer prejulgamento, o líder petista voltou a cobrar que o próprio PSDB deveria pedir a apuração das denúncias feitas no livro. “É interessante como a oposição se posiciona nesta Casa. São os grandes arautos da moralidade, as vestais da honestidade, que tudo querem investigar. Sai uma nota num jornal, querem convocar o ministro para vir ao Congresso Nacional, pedem a abertura de uma CPI, vão para o Ministério Público. Agora, diante de um livro de 300 páginas, que tem 141 documentos sobre as coisas que estão aqui denunciadas, uma única palavra para se pedir apuração eu não ouço, eu não ouço por parte da oposição”.

Segundo ele, a nenhum parlamentar ou cidadão sério causa alegria qualquer tipo de denúncia que envolva dinheiro público. “Na verdade, se o PSDB entrar, deveria entrar na Justiça para processar o jornalista, para que ele possa ter inclusive a oportunidade de dizer se isso aqui é verdade ou não. Eu desejo sucesso ao PSDB em provar que o que está aqui, aliás, quem tem que provar é o jornalista, em garantir que não seja provado o que está aqui colocado”, disse ele ao lado do senador Aécio Neves.

“[O senador Aloysio] devia ficar também um pouco mais tranquilo porque eu estou aqui só pedindo que se apure, se apure, se apure”, completou.

Quem não tem argumento, fala bobagens


Leitura de Aécio "A Privataria Tucana"


As relações perigosas da imprensa

O ruidoso silêncio dos jornais de circulação nacional em torno do livro A privataria tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., diz muito sobre o que tem sido, nos últimos anos, o viés político da imprensa brasileira. Mas deixa ainda mais obscuros os escaninhos da relação entre o ex-governador, ex-ministro, ex-prefeito e ex-senador José Serra com a cúpula das empresas de comunicação dos principais centros do país.

Repórteres que acompanham a carreira desse político paulista se habituaram há muito tempo a aceitar como normal sua ascendência sobre as cabeças coroadas da imprensa tradicional. Nunca ocorreu a ninguém – ou se ocorreu, nunca antes qualquer profissional havia enfrentado essa tarefa – vasculhar os segredos dessa estranha relação.

O livro de Ribeiro Jr., pelo menos nos trechos já divulgados em entrevistas que circulam pela internet e reproduzidos por blogs, levanta hipóteses que podem conduzir a conclusões perigosas demais para serem tratadas com leviandade. Talvez seja essa exatamente a razão pela qual os grandes jornais ainda não se dispuseram a entrar no assunto com a dedicação que ele merece.

Silêncio da imprensa

Se é verdade metade do que já se disse sobre a investigação de Ribeiro Jr., deve haver motivos para preocupações em muitas casas de boa reputação. Mais alguns dias e os primeiros compradores terão completado a leitura das 334 páginas do livro, e então o silêncio da chamada grande imprensa será de pouca valia.

Argumentando-se que é apenas a cautela do jornalismo responsável o motivo de tamanha retração – pois seria leviano conceder o aval da imprensa ao livro e seu autor sem uma leitura cuidadosa da obra – ainda assim não se pode escapar de uma comparação com outros livros sobre políticos publicados recentemente.

Não é mistério para as pessoas afeitas ao mister do jornalismo que muitas das resenhas publicadas pela nossa imprensa são produzidas por osmose, sem que os redatores de cadernos de cultura tenham que se dar o trabalho de ler inteiramente a obra analisada. O método é descrito deliciosa e ironicamente pelo escritor Ronaldo Antonelli, ex-redator do jornalismo cultural, em seu romance O crepúsculo das letras.

Foi assim, claramente, que alguns livros sobre políticos ganharam destaque recentemente. Principalmente aqueles escritos por seus desafetos, como foram os casos daqueles que têm como personagem o ex-presidente Lula da Silva.

Se o caso é de esperar que algum bom resenhista termine sua leitura, louvado seja o silêncio da imprensa em torno do livro-bomba de Amaury Ribeiro Jr. Caso contrário, pode-se dizer que se trata do silêncio dos indecentes.

Choque de realidade

Há evidências de que o viés conservador da imprensa nacional se transforma em padecimento mental. A possibilidade de que um livro venha a desfazer a imagem pública de um aliado político parece paralisar as grandes redações.

Mesmo a hipótese de que se trate de uma grande farsa, a esta altura muito improvável, seria motivo para que o tema atiçasse a curiosidade dos editores. Se nem a possibilidade de provar que se trata de uma armação, com a consequente canonização midiática de José Serra, é capaz de mover os grandes jornais, pode-se afirmar que a imprensa precisa de um choque de realidade.

Uma imprensa ruim ainda é melhor que nenhuma imprensa, mas para merecer o respeito da sociedade é preciso algum sinal vital de jornalismo, ainda que tênue. A imobilidade das grandes redações diante de um escândalo potencial como o que representa o livro de Amaury Ribeiro Jr. alimenta de argumentos aqueles que defendem o controle externo da mídia.

A melhor defesa é o esforço pelo jornalismo de qualidade, que inclui banir a prática da lista negra de pautas indigestas.

Entrevista de Amaury Ribeiro Júnior na Record News - "A Privataria Tucana"