O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, terá que enfrentar, ao mesmo tempo, a gritaria de empresários, trabalhadores e da base social do governo Dilma, para convencer a todos de que seu ajuste fiscal poderá trazer de volta, a médio prazo, um quadro de crescimento; no entanto, a aposta é incerta, diz a colunista política do 247, Tereza Cruvinel; "Muitos são os analistas que apontam o risco de o ajuste resultar numa combinação de recessão com inflação e desemprego. Enfrentado custos mais elevados, as empresas podem alimentar a inflação com o repasse dos encargos para os preços e já falam em demissões. A queda na renda das famílias inibirá o consumo e sobrevirá a recessão", afirma; leia a íntegra
Pelo teor das medidas e pelo tom utilizado na entrevista em que as apresentou, o ministro da Fazenda partiu para o tudo ou nada. Sua sobrevivência no cargo depende, primeiramente, da aprovação das medidas legais do ajuste fiscal pelo Congresso, onde as resistências cresceram com o recuo na desoneração da folha de pagamento das empresas. Se aprovado, o ajuste terá que trazer benefícios econômicos pelo menos a médio prazo. Muitos s analistas, entretanto, temem que as medidas levem o país à nefasta dobradinha entre recessão e inflação.
As primeiras medidas, penalizando apenas os trabalhadores, indispuseram contra o governo sua base social, representada por sindicatos e movimentos que foram para a rua defender a candidatura de Dilma quando o risco de derrota foi efetivo. Se elas tivessem vindo junto com as medidas que afetam empresas e com algum sacrifício para o chamado andar de cima, teria sido mais fácil defendê-las, reclamam os petistas.
Agora veio o aumento de tributos e a reoneração da folha de pagamentos, que mexem com o empresariado e seus aliados no Congresso, sejam da base governista ou da oposição. No vaticínio do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, “as dificuldades no Congresso aumentaram”. Relativamente ao fim da desoneração da folha, que eleva a contribuição previdenciária de grande número de empresas de 1% para 2,5% ou de 2% para 4,5%, ele diz que a vigência do incentivo, criado no primeiro governo Dilma, gerou “expectativas de direito”, que exigirão um debate jurídico. Como o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, já avisou que o setor vai se mobilizar contra a medida, não se deve descartar a sua judicialização, com recursos aos tribunais superiores. A desoneração continua valendo para alguns setores da economia mas isso o governo mal conseguiu divulgar.
Estas são as dificuldades políticas que Levy enfrentará para legitimar seu ajuste fiscal. Sem falar no desagrado de setores do governo com o tom de suas críticas à desoneração da folha, medida que considerou “grosseira” e chamou de “brincadeira cara”, ao custo de R$ 25 bilhões/ano. O desgaste será também de Dilma mas o ministro tornou-se o pai do ajuste, não se aplicando a ele, até onde a vista alcança, o argumento de que a presidente interfere em suas ações.
Mas ainda que tudo dê certo no Congresso, com algumas concessões sempre inevitáveis, Levy terá de passar pela prova dos resultados econômicos de sua receita. Ele aposta que, arrumando as contas públicas e recuperando a credibilidade da politica econômica do Governo, conseguirá no médio prazo recolocar a economia no caminho do crescimento. Muitos são porém os analistas que apontam o risco de o ajuste resultar numa combinação de recessão com inflação e desemprego. Enfrentado custos mais elevados, as empresas podem alimentar a inflação com o repasse dos encargos para os preços e já falam em demissões. A queda na renda das famílias inibirá o consumo e sobrevirá a recessão. O economista Gonzaga Belluzzo fez este diagnóstico antes mesmo da adoção das primeiras medidas fiscais. Outro que aponta o risco é Guilherme Delgado, ex-IPEA, que descarta a comparação com o ajuste feito por Lula em 2004. Naquele momento, a conjuntura internacional era favorável às exportações, o que compensou a retração. Depois vieram os anos de crescimento. Agora, o quadro é oposto, ainda que o câmbio venha favorecendo os exportadores com a alta do dólar.
Oposta também é a conjuntura política interna que Dilma enfrenta. Lula ainda estava em lua de mel com a população em 2003, e todos os dias aproveitava um discurso para dizer que estava arrumando a casa para alcançar crescimento e distribuição de renda num segundo momento. A comunicação do atual governo não tem sido eficiente neste aspecto e Dilma enfrenta um inferno astral em que se misturam os problemas econômicos com o escândalo da Petrobrás, que fere profundamente o PT, problemas na relação com o parceiro principal na coalizão governista, o PMDB, e uma oposição que não desarticulou suas estruturas de campanha e surfa na insatisfação popular apoiando movimentos difusos pelo impeachment.
Neste quadro, Levy, com apoio de Dilma, fez sua aposta no tudo ou nada.
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