sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Paulo Bernardo, por que te calas?


Por Júlio Carignano, no blog Sítio Coletivo:

"Tudo depende se o governo quer bancar o custo político ou não...". Essa frase solta que inicia a postagem foi uma das que mais me chamou a atenção durante o I Encontro Mundial de Blogueiros Progressistas, realizado em Foz do Iguaçu. Ela é fragmento da fala de Jesse Chacón, ex-ministro das Comunicações da Venezuela, ao falar sobre a elaboração de um marco regulatório para o setor. O venezuelano expôs que há vários tipos de regulação, mas sempre haverá um custo, já que são reformas que atingem "grandes interesses".

Dentre as mais de 20 intervenções de jornalistas, blogueiros e ciberativistas convidados para as mesas de debates, as que grande parte dos presentes aguardava com maior expectativa eram as que compunham o debate de encerramento com o tema: "A luta pela liberdade de expressão e pela democratização da comunicação".

O motivo – além da presença de autoridades expondo experiências de regulações em seus respectivos países – era para a intervenção de Paulo Bernardo, ministro das Comunicações do Brasil. Infelizmente, o petista não atendeu ao convite, alegando ter problemas de "agenda"; agenda essa que também parece ter impedido o ministério de enviar outro representante ao #BlogMundoFoz. Uma pena, pois o MiniCom teria muito a aprender com o debate.

A discussão prometia ser quente, já que há pouco mais de 10 dias o ministro recebeu das entidades do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação uma plataforma construída com a participação da sociedade. A expectativa dos blogueiros era para maiores esclarecimentos de Bernardo, já que ele vem afirmando que o marco regulatório ainda não foi implantado porque "ele não teria recebido a proposta pronta da equipe do governo do ex-presidente Lula, coordenada pelo jornalista e ex-ministro Franklin Martins".

Não é de hoje que Bernardo coloca empecilhos para implantação do "prometido" marco regulatório. A demora em colocar em prática a regulação talvez explique o "rasgar de seda" ao "pragmático" Bernardo por parte da imprensa tradicional - diretamente afetada com uma eventual regulação - diferente de outros titulares de pastas, constantemente na berlinda da velha mídia.

Democratização

Apesar da ausência de Bernardo, os blogueiros puderam ouvir Chacón dar detalhes sobre a reforma de duas leis ligadas ao setor de mídia e telecomunicações na Venezuela - a Lei Orgânica das Telecomunicações e a Lei de Responsabilidade Social em Rádio e Televisão (Resorte) - que incluíram novas regras para conteúdos publicados na internet e para a concessão de emissoras de rádio e TV no país.

No mesmo debate, Damian Loreti, professor universitário, falou da implantação da "Ley de Medios" na Argentina, promulgada no dia 10 de outubro de 2009. A nova legislação – que provocou a ira de setores midiáticos que mantinham monopólios (vide Clarin) – representou um avanço significativo para uma real democracia da comunicação no país vizinho.

O empresariado da grande mídia argentina - acostumado a lucrar com comunicação por meio da alienação e que ainda entende regular como "censurar" - foi afetado especialmente no que diz respeito aos serviços de concessões. Loreti expôs que atualmente cada empresa pode ter até 25 sinais de licença (concessões) e esse número se reduzirá a 10 com a nova lei.

Tendo como principais características buscar pôr fim aos monopólios e oligopólios midiáticos, a Ley de Medios não regula conteúdos como se tentou vender a ideia, que também foi comprada pela imprensa brasileira, basta avaliarmos noticiários de canais como GloboNews e editoriais de jornais como Folha de São Paulo e Estadão, que trataram do tema por aqui.

Com a lei, o governo argentino irá conceder 220 licenças de serviço audiovisual, das quais serão divididas pela metade entre entidades sem fins lucrativos e emissoras comerciais. Um mesmo concessionário não poderá dar serviços para mais de 35% da população do país e um canal aberto não poderá ser dono de uma empresa de TV a cabo, assim como as empresas telefônicas também não.

Para conter empresas internacionais, a sociedade comercial deverá ter um capital de origem nacional, podendo ter no máximo 30% de capital estrangeiro. Porém o mais interessante é a participação do povo nesse processo - tanto para aprovação da lei por meio dos movimentos sociais tomando às ruas - quanto na fiscalização e futura aplicação da lei por meio do Conselho Federal de Comunicação

Objetivo comum?

Enfim, o debate foi enriquecedor e a ausência de Paulo Bernardo suscita análises. Devemos lembrar o recente Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) que colocou o marco regulatório como "um desafio do momento", tratando o tema como "relevante e objetivo comum" tanto da legenda quanto dos movimentos sociais. Na Carta do PT, os partidários apontam como "urgente abrir o debate no Congresso Nacional sobre o marco regulador da comunicação social – ordenamento jurídico que amplie as possibilidades de livre expressão de pensamento e assegure o amplo acesso da população a todos os meios – sobretudo os mais modernos como a internet", diz trecho.

Bernardo perdeu a oportunidade de mostrar aos blogueiros presentes - especialmente os independentes - que o marco regulatório é realmente, como diz a Carta do PT, um "objetivo comum" junto aos movimentos que estão levantando a bandeira da democratização da comunicação. O petista teria muito a ganhar - e porque não - a acrescentar no debate com Chacón, Loreti e a ministra das Comunicações do Peru, Blanca Josales.

O ministro - que já vem sendo questionado pela submissão do Governo Federal às telefônicas (as chamadas Teles) em relação ao Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) - poderia ganhar uns pontinhos perdidos ao esclarecer o porquê o projeto "rascunhado" por Franklin Martins ainda não veio à público. Além disso daria uma resposta se o Estado Brasileiro - a exemplo da Argentina, Uruguai, Colômbia, México e Guatemala - está realmente disposto a bancar esse "custo" do enfrentamento com os grandes grupos que controlam e manipulam a mídia do país, famílias que são contadas nos dedos de uma única mão.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A impostura da pseudo travessia de Aécio





A coluna de Aécio Neves, no jornal Folha de São Paulo, desta segunda-feira (31/10) é um misto de presunção e de charlatanismo.



Presunção, porque ele se apresenta como que reunindo autoridade política para criticar o presidencialismo de coalizão e os malfeitos daí decorrentes. Ora, ele praticou (e seu sucessor em Minas pratica) o “governadorismo” de coalizão; e os malfeitos de seu governo, legados à gestão Anastasia, são extensos e intensos. Uma parte significativa deles repousa na mesa do Procurador Geral da República, Dr. Gurgel, e diz respeito a ele diretamente, junto com a irmã, na trama de verbas de publicidade, a famosa rádio Arco Íris, com fortes indícios de ocultação de patrimônio, sonegação fiscal e improbidade administrativa.


Charlatanismo é outra marca de seu escrito. Ele viola as regras básicas de, pelo menos, três ramos das ciências humanas: a politicologia (ou, simplesmente, política), a história e a sociologia, ao condensar – sem qualquer comprovação documental – dois períodos complexos dos fenômenos de um passado recente e da contemporaneidade. Ele trafica a ideia de que os anos JK e de Jango representariam um momento de forte identificação do povo com a política e os políticos. E que agora teríamos a desidentificação entre os dois atores, em face da prevalência de governos de coalizão e de suas consequências corruptoras. Nada mais equivocado.
E na sua pseudo ciência, Aécio tenta introduzir o avô, Tancredo, como parte destacada daquela história vivenciada pelas figuras de JK e João Goulart.

Em primeiro lugar, o “povo” urbano e participante da política na época de Juscelino era restrito. Os ecos do coronelismo eram fortes e definiam o caráter da identificação entre políticos e povo. Sobretudo porque essa dimensão “rural” da política ainda pressionava as cidades e resultou em duas tragédias: Jânio Quadros com sua “vassoura” e o golpe militar de 1964, ambos de triste memória. O texto do senador Aécio Neves, ao omitir as consequências do período que defere, só mostra seu descomprometimento com o rigor analítico que se demanda no tratamento da história, principalmente quando recente.

Em segundo, o fazer político da época dourada que ele enxerga em seu método alucinógeno de análise, integra plenamente a corrupção, que permeava as gigantescas obras de infraestrutura daquele período, ajudando a formar as fortunas e as elites contemporâneas. E a travessia que houve, de fato, se completa com as privatizações da era em que foi deputado federal, líder do governo FHC e presidente da Câmara. A análise científica e, porque não dizer, policial, do processo de privatizações ainda vai demonstrar que o período da história brasileira em que o patrimônio público foi mais dilapidado é exatamente aquele em que seu partido, o PSDB, e ele próprio, tiveram mais poderes.

As reveladoras gravações dos “grampos do BNDES”, a Pasta Rosa, o Proer (e sua clandestinidade) e o SIVAM associam-se ao uso intensivo de ativos podres na “compra” de estatais, na desnacionalização de grande parte da economia, na desregulamentação de direitos trabalhistas e sociais, na proliferação das ONGs, consultorias e terceirizações que são a porta de entrada dos ditos malfeitos com a coisa pública. Inclui-se aí o período da consolidação da legislação que trata dos processos licitatórios para obras e serviços públicos, no qual poderiam ter sido reguladas as problemáticas aditivações de contratos, fontes importantes para desvios. Afora o pagamento comprovado de votos para se aprovar o instituto da reeleição que beneficiou diretamente FHC!

Aécio, até pouco tempo, insistia em estabelecer um vínculo pessoal com uma idade do ouro que – virtualmente – teria representado Tancredo. Virtual em face do desfecho trágico de sua carreira política em abril de 1985. Agora, ele vai mais longe. Estende a idade do ouro aos tempos de Juscelino e Jango, e tenta inserir seu avô no mesmo patamar de figuras que fizeram história na época. Falseia, mais uma vez, a densidade histórica dos atores citados. Tancredo Neves se torna uma figura “nacional” na vitória sobre Maluf, na eleição indireta, e nos poucos meses que viveu a condição de “presidente eleito”, na triste agonia de sua doença e morte.

Mesmo no processo de redemocratização, sobressaíram Ulysses Guimarães, Leonel Brizola, Lula, Teotônio Vilela e outros. Tancredo teve aí uma postura discreta e conciliadora, o que lhe valeu ser aceito pela cúpula militar como a alternativa para a transição conservadora. Enfim, foi um sobrevivente da conturbada conjuntura da década de 1950, quando soube se equilibrar entre o conservadorismo e a atabalhoada “modernidade” que se impunha aos atores políticos. E, na década de 1980, quando – entrincheirado em sua discrição – cumpriu um papel restrito, tolhido pelo desfecho lamentável de sua doença.

Colocá-lo no mesmo patamar de JK, que desde a revolução constitucionalista de 1932, atuou na política e na história brasileiras é um exagero. Antes dele, figuras como Getúlio Vargas, Juarez Távora, Clóvis Salgado, Lott, Carlos Luz, Prestes, João Goulart, Jânio Quadros, Lacerda e muitos outros, ocuparam um lugar proeminente na história política do país, independentemente do juízo de valor que se faça de qualquer um deles. Ao contrário da distorção histórica que insinua Aécio, na intensa e extensa travessia do Brasil arcaico ao contemporâneo, a identificação da política com malfeitos, coronelismo, patrimonialismo, apadrinhamento, heranças familiares (políticas e econômicas), falências de bancos é algo, como diria Ulysses Guimarães, ontológico. Ou seja, está no “ser” das relações políticas, econômicas e sociais de todo o processo civilizatório e que se agudizam desde os tempos da Revolução Industrial na Inglaterra.
Finalmente, uma clara demarcação. Aécio, na inauguração da sede administrativa de governo mineiro em 2010, manifesta sua megalomania e intenção se ter um papel histórico proeminente. Quis ele se colocar numa linha de continuidade que começa com JK, teria passado por Tancredo e culminaria com sua chegada ao Palácio do Planalto. Detalhe: a distância histórica entre ele e JK é diretamente proporcional à magnitude de Brasília em relação aos prédios construídos com dinheiro da CODEMIG, em flagrante desvio de finalidade e missão.

Se há algum ponto que identifica JK e Aécio é, genericamente, seus estilos de bon vivant.Mesmo aí há substantivas diferenças: o primeiro era um pé de valsa light, elegante, gentil com as mulheres, marido dedicado e pai presente.



Minas sem Censura



 

O Rio de Janeiro,é estado preferencial de Aécio Neves?





Pré-sal: A verdadeira posição de Aécio

O Projeto de Lei 448/11 (senador Vital do Rego, PMDB-PB) garante uma divisão mais equilibrada dos recursos do petróleo extraído da camada do pré-sal. Aécio, contrariando seu discurso de campanha em 2010, operou a favor do Rio de Janeiro e contra dos demais estados e municípios do país. Contra a proposta de Vital do Rego, ele apoiou a de Francisco Dorneles, do PP-RJ.

Se aprovado o substitutivo do senador do PMDB, a diferença será gritante:

-Minas Gerais recebeu 95,1 milhões de Reais em 2010. Em 2012, pela proposta de Vital do Rego, Minas passaria a receber 757 milhões de Reais! 726% de aumento.

-Estados e municípios ditos não produtores (ou não “confrontantes”) terão significativo aumento na participação no bolo arrecadado. Minas (estado e municípios) saltará de 8,75%, a 40%.

Quem “perde”?

Os estados e munícipios ditos produtores (ou confrontantes) reduzem parcialmente o ganho potencial até 2020. Note-se que falamos exclusivamente do petróleo retirado da camada pré-sal. Na verdade, não perdem. Deixam de ganhar.

- Municípios produtores caem de 26,25% para 17% em 2012. E chegarão a 4% em 2020.

- A União cairá de 30% a 20% até 2020.

E Rio de Janeiro, estado preferencial de Aécio Neves?

Terá sua fatia reduzida, por exemplo, em 1%. Terão “apenas” 9,5 bilhões de Reais dos 19,1 bilhões distribuídos como royalties.

Como votou Aécio no senado?

Apesar disso, Aécio se posicionou claramente a favor do substitutivo de Francisco Dorneles, senador do Rio de Janeiro, que previa ganhos desproporcionais aos estados ditos produtores, em desfavor dos municípios e estados do restante do país.

É óbvio que os governadores, parlamentares, empresários e outras lideranças dos tais estados produtores tem o direito e o dever de defender seus interesses. Mas é sempre bom lembrar: está se falando de petróleo em alto mar, em águas territoriais da União, em grandes profundidades. Não é no território dos mencionados estados. Não há direito divino, nem natural desses estados nas citadas riquezas.

No entanto, o senador mineiro, revela seu oportunismo. Quer ficar bem com São Paulo e Rio de Janeiro e prejudicar os demais estados e municípios do país. Inclusive Minas Gerais.



terça-feira, 1 de novembro de 2011

Blogueiro responde a sub-celebridade que mandou Lula se tratar no SUS



Malditos comunistas!


José Roberto Torero
Carta Maior 

Acabaram os jogos Pan-Americanos e mais uma vez ficamos atrás de Cuba.
Mais uma vez!
Isso não está certo. Este paiseco tem apenas 11 milhões de habitantes e o nosso tem 192 milhões. Só a 

Grande São Paulo já tem mais gente que aquela ilhota.
Quanto à renda per capita, também ganhamos fácil. A deles foi de reles 4,1 mil dólares em 2006. A nossa: 10,2 mil dólares.

Pô, se possuímos 17 vezes mais gente do que eles e nossa renda per capita é quase 2,5 vezes maior, temos que ganhar 40 vezes mais medalhas que aqueles comunas.

Mas neste Pan eles ganharam 58 ouros e nós, apenas 48.

Alguma coisa está errada. Como eles podem ganhar do Brasil, o gigante da América do Sul, a sétima maior economia do mundo?

Já sei! É tudo para fazer propaganda comunista.

A prova é que, em 1959, ano da revolução, Cuba ficou apenas em oitavo lugar no Pan de Chicago. Doze anos depois, no Pan de Cáli, já estava em segundo lugar. Daí em diante, nunca caiu para terceiro. Nos jogos de Havana, em 1991, conseguiu até ficar em primeiro lugar, ganhando dos EUA por 140 a 130 medalhas de ouro.

Sim, é para fazer propaganda do comunismo que os cubanos se esforçam tanto no esporte. E também na saúde (eles têm um médico para cada 169 habitantes, enquanto o Brasil tem um para cada 600) e na educação (a taxa de alfabetização deles é de 99,8%). Além disso, o Índice de Desenvolvimento Humano de Cuba é 0,863, enquanto o nosso é 0,813.

Tudo para fazer propaganda comunista!

Aliás, eles têm nada menos do que trinta mil propagandistas vermelhos na cultura esportiva. Ou professores de educação física, se você preferir. Isso significa um professor para cada 348 habitantes. E logo haverá mais ainda, porque eles têm oito escolas de Educação Física de nível médio, uma faculdade de cultura física em cada província, um instituto de cultura física a nível nacional e uma Escola Internacional de Educação Física e Desportiva.

Há tantos e tão bons técnicos em Cuba que o país chega a exportar alguns. Nas Olimpíadas de Sydney, por um exemplo, havia 36 treinadores cubanos em equipes estrangeiras.

E existem tantos professores porque a Educação Física é matéria obrigatória dentro do sistema nacional de educação.

Até aí, tudo bem. No Brasil a Educação Física também é obrigatória.

A questão é que, se um cubano mostrar certo gosto pelo esporte, pode, gratuitamente, ir para uma das 87 Academias Desportivas Estaduais, para uma das 17 Escolas de Iniciação Desportiva Escolar (EIDE), para uma das 14 Escolas Superiores de Aperfeiçoamento Atlético (ESPA), e, finalmente, para um dos três Centros de Alto Rendimento.

Ou seja, se você tiver aptidão para o esporte, vai poder se desenvolver com total apoio do estado.

Pô, assim não vale!

Do jeito que eles fazem, com escolas para todos, professores especializados e centros de excelência gratuitos, é moleza.

Quero ver é eles ganharem tantas medalhas sendo como nós, um país onde a Educação Física nas escolas é, muitas vezes, apenas o horário do futebol para os meninos e da queimada para as meninas. Quero ver é eles ganharem medalhas com apoio estatal pífio, sem massificar o esporte, sem um aperfeiçoamento crescente e planejado.

Quero ver é fazer que nem a gente, no improviso. Aí, duvido que eles ganhem de nós. Duvido!
Malditos comunistas...

José Roberto Torero é formado em Letras e Jornalismo pela USP, publicou 24 livros, entre eles O Chalaça (Prêmio Jabuti e Livro do ano em 1995), Pequenos Amores (Prêmio Jabuti 2004) e, mais recentemente, O Evangelho de Barrabás. É colunista de futebol na Folha de S.Paulo desde 1998. Escreveu também para o Jornal da Tarde e para a revista Placar. Dirigiu alguns curtas-metragens e o longa Como fazer um filme de amor. É roteirista de cinema e tevê, onde por oito anos escreveu o Retrato Falado.

domingo, 30 de outubro de 2011

Corrupção, mídia e farsa


A farsa da oligarquia da mídia contra a corrupção está em marcha. No feriado do dia 12, a TV Globo fez até plantão, com repórter na Esplanada, em Brasília, interrompendo a programação normal, para falar de toda a sua grande esperança e torcida para que a denominada Marcha contra a Corrupção fosse massiva.


Que diferença da TV Globo dos anos de 1980 quando sonegou ao povo, até não poder mais, informações sobre a Campanha das Diretas-Já, quando milhões de cidadãos foram às ruas para conquistar, finalmente, o voto direto e enterrar a ditadura, defendida pela emissora!


Há uma tentativa de “teorização vulgar”, quando jornalistas tucanos, como Eliane Cantânhede - que chegou a considerar um comício do PSDB como uma “manifestação de massa cheirosa” - esforçam-se por argumentar que algo inédito estaria ocorrendo nestas manifestações porque não registram presença de partidos, sindicatos, movimento estudantil ou social.


Segundo dizem, esta característica conferiria um novo conteúdo à manifestação, de modernidade, espontaneísmo, sem contaminação político-partidária, como a negar o papel da liberdade partidária e sindical, conquistada pelo povo após o funeral da ditadura. Há uma dose de farsa nisto tudo, primeiro porque alguém pagou pelas vassouras (que lembram Jânio Quadros) da manifestação, que também contou com convocação da juventude do PSDB.


As greves de várias categorias por melhor remuneração e condição de trabalho, a luta que continua pela reforma agrária, pelo direito a moradia, mostram claramente que partidos, sindicatos e movimentos sociais não estão cooptados. Ao contrário, estão arrancando conquistas legítimas. Esta é uma conclusão importante. Outra, é sobre a aliança que determinados segmentos da esquerda estão realizando com a TV Globo, terminando por reforçar, involuntariamente, o discurso conservador de que a corrupção foi inventada por Lula-Dilma. Isto sim deve ser motivo de preocupação, sobretudo após a assustadora aliança de setores da esquerda com a OTAN em sua agressão imperialista à Líbia.


Beto almeida, 
Brasil de Fato 

O que a PIG nunca mostraria: Protesto contra a revista Veja

Protesto contra o "detrito de maré baixa" Veja .

Cerca de 50 manifestantes dos movimentos Anonymous e Ocupa Sampa entraram por volta de 18h desta sexta-feira (28) no prédio da Editora Abril, na zona oeste de São Paulo, para protestar contra a revista “Veja”, que na edição do último sábado (22) estampou na capa a máscara símbolo do Anonymous para ilustrar uma reportagem sobre combate à corrupção.



A voz do Brasil que nunca teve voz


Lula completou 66 anos esta semana: a metade deles emprestando a voz rouca e grave à defesa da democracia e da justiça social no seu país e no mundo. Mesmo quando lhe faltaram microfones, nas assembléias históricas da Vila Euclides, no ciclo das grandes greves do ABC paulista, anos 80, a voz rouca e grave se propagou através de outras vozes para se fazer ouvir em todos os cantos e lares mais humildes do território.
A economia e a sociedade que essa voz ajudou a construir hoje falam por ele. E torcem por ele, na certeza de que ele ainda falará por ela durante muito tempo, como líder político incontestável da grande frente progressista que deu voz a um Brasil que nunca antes teve voz nem vez na política nacional. Na campanha de 2002, num discurso emocionado, quando a vitória ainda era dúvida, Lula disse que se considerava uma obra coletiva do povo brasileiro. E que assim persistiria , fosse qual fosse o resultado da disputa. E assim se deu. Lula se transformou no intérprete mais fiel das lutas e sonhos da gente brasileira, a ponto de o seu nome ter se incorporado ao vocabulário nacional ('agora é Lula!') como uma espécie de sinônimo do orgulho, da resistência e do discernimento e uma população que nele se enxergou como fonte de poder e de direitos .
Essa força tamanha não vai silenciar. Não apenas porque Lula em breve voltará a expressá-la, mas porque em qualquer tempo, e em qualquer lugar , sempre que interesses de uma elite anti-social e demofóbica ameaçarem as conquistas acumuladas por essa gente, haverá quem cante, assovie, murmure ou mencione o refrão que enfeixa um punhado de significados, todos eles imiscíveis com a prepotência e a humilhação que encontrou nesta voz um contraponto de alteridade e hegemonia que o refrão não cansa de reafirmar: 'olê, olê, olê, olá, Lula, Lula; olê, olê, Olê, Olá...'

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Os traidores da Pátria

Wikileaks mostra Fernando Rodrigues como informante dos EUA

Nos documentos vazados pelo Wikileaks, o jornalista Fernando Rodrigues, colunista da Folha de S. Paulo, também aparece como informante, em encontro na embaixada dos EUA.


Numa conversa de 2006, Rodrigues teve um encontro com representantes da embaixada americana, e disse entre as quatro paredes que o TCU (Tribunal de Contas da União) era aparelhado politicamente pelos demo-tucanos, e tinha relatórios feitos para usar como batalha partidária da oposição contra o governo.


Disse que o tribunal faz análises não confiáveis e seus noves ministros são geralmente ex-senadores ou ex-deputados escolhidos por seus colegas para atuarem partidariamente. Rodrigues citou nominalmente o ministro Aroldo Cedraz, a quem classificou como “carlista” – ligado ao finado Antonio Carlos Magalhães.


De acordo com os documentos, Rodrigues também fazia análises políticas para a embaixada americana e avaliou o cenário da Câmara em 2006, que teve como oponentes Arlindo Chinaglia, do PT, e Aldo Rebelo, do PCdoB. Rodrigues disse que, se Aldo perdesse, ganharia como prêmio de consolação o Ministério da Defesa (o que não ocorreu). (Com informações do Portal 247).




Nosso “midiagate” saiu na mídia!


Inacreditável. E, agora, vai ser difícil manter as coisas cobertas pelo manto de silêncio. O jornal O Dia publicou a confirmação da história de que todos sabiam – acrescentando mais detalhes – as intimidades entre jornalistas famosos e a embaixada americana no Brasil. Cita, nominalmente, o apresentador da Globo William Waack e Carlos Eduardo Lins da Silva e Fernando Rodrigues, ambos da ‘Folha de S. Paulo’.


As visitas íntimas – pois não foram públicas, nem assunto de matéria por qualquer um deles – não se destinavam a apurar assuntos internacionais ou a falar sobre as relações entre os dois países, mas as avaliações – furadas, como se sabe – da candidatura Dilma Rousseff, no ano passado.

À parte o fato de os EUA escolherem mal seus informantes e analistas, o episódio deixa evidente que estes profissionais ultrapassaram qualquer limite ético no relacionamento com um governo estrangeiro.


Têm todo o direito de serem amigos e buscarem informações com diplomatas estrangeiros, como fez dos citados, Fernando Rodrigues, da Folha, ontem, numa entrevista como o embaixador Thomas Shannon, reportagem legítima e de interesse público. Tem, mesmo, todo o direito de buscar, com eles, informações em off.


Mas não têm o papel de fazer análises privadas para a informação de outro país, escondendo isso de seus leitores e telespectadores. Imaginem se um diretor do NY Times ou um apresentador da NBC fazendo visitas discretas à embaixada brasileira para nos dar uma visão íntima dos candidatos a presidente dos EUA?


Agora, com a publicação de O Dia sobre os telegramas diplomáticos que revelam seu comportamento, vazados pelo Wikileaks, estão obrigados a dar explicações públicas.


Já não podem dizer que a informação é obra de “blogueiros sujos”.


Colher informações, para um jornalista, é sua obrigação.


Fornecer informações, éticamente, é algo que só ao leitor se faz.


Não a diplomatas estrangeiros, ainda mais nas sombras.


Isso tem outro nome, que deixo ao leitor a tarefa de lembrar qual.



O traíra da Pátria

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O acovardado governo Dilma

Queda do ministro serve de alerta




Por Altamiro Borges

O lamentável episódio da queda do ministro Orlando Silva deveria servir de alerta às forças democráticas da sociedade brasileira – que lutaram contra as torturas e assassinatos na ditadura militar e que, hoje, precisam encarar como estratégica a luta contra a ditadura midiática, em defesa da verdadeira liberdade de expressão e da efetiva ampliação da democracia no Brasil.

A mídia hegemônica hoje tem um poder tão descomunal que ela “investiga”, sempre de forma seletiva (blindando seus capachos); tortura (seviciando, inclusive, as famílias das vítimas); usa testemunhas “bandidas” (como um policial preso por corrupção, enriquecimento ilícito e suspeito de assassinato); julga (sem dar espaço aos “acusados”); condena (como nos tribunais nazistas); e fuzila!



Um pragmatismo covarde e suicida

Ninguém está imune ao poder ditatorial da mídia, controlada por sete famílias – Marinho (Globo), Macedo (Record), Saad (Band), Abravanel (SBT), Civita (Abril), Frias (Folha) e Mesquita (Estadão). Como o império Murdoch, hoje investigado por seus subornos e escutas ilegais, a mídia nativa é criminosa, mafiosa, sádica e abjeta. Ela manipula informações e deforma comportamentos.

Não dá mais para aceitar passivamente seu poder altamente concentrado, que, como disse o governador Tarso Genro – pena que não tenha agido com esta visão quando ministro da Justiça –, ruma para um “fascismo pós-moderno”. Essa ditadura amedronta e acovarda políticos sem vértebra, pauta a agenda política, difunde os dogmas do “deus-mercado” e criminaliza as lutas sociais.

Três desafios diante da ditadura midiática

Esta ditadura é cruel, sem qualquer escrúpulo ou compaixão. Ela utiliza seus jagunços bem pagos, sob o invólucro de “colunista” e “comentaristas”, para fazer o trabalho sujo. Muitos são agentes do “deus-mercado”, lucram com seus negócios rentistas; outros são adeptos da “massa cheirosa”, das elites arrogantes e burras. Eles fingem ser “neutros”, mas são adoradores da direita fascistóide.

Enquanto não se enfrentar esta ditadura midiática, não haverá avanços na democracia brasileira, na luta dos trabalhadores ou na superação das barbáries capitalistas. Neste enfrentamento, três desafios estão colocados:

1- Não ter qualquer ilusão com a mídia hegemônica; chega de babaquice e servilismo diante da chamada “grande imprensa”;

2- Investir em instrumentos próprios de comunicação. A luta de idéias não é “gasto”, é investimento estratégico;

3- Lutar pela regulação da mídia e por políticas públicas na comunicação, que coíbam o poder fascista do império midiático.

Chega de covardia diante dos fascistas midiáticos

O criminoso episódio da tentativa de invasão do apartamento do ex-ministro José Dirceu num hotel em Brasília parece que serviu de sinal de alerta ao PT. Em seu encontro nacional, o partido aprovou a urgência de um novo marco regulatório da comunicação. Um seminário está previsto para final de novembro. Já no caso da queda Orlando Silva, o clima é de total indignação e revolta.

Que estes trágicos casos sirvam para mostrar que, de fato, a luta pela democratização da comunicação é uma questão estratégica. Não dá mais para se acovardar diante da ditadura da mídia. O governo Dilma precisa ficar esperto. Hoje são ministros depostos; amanhã será o sangramento e a derrota da própria presidenta e do seu projeto, moderado, de mudanças no Brasil.

Superar a choradeira e a defensiva

A esquerda política e social precisa rapidamente definir um plano de ação unitário de enfrentamento à ditadura midiática. As centrais sindicais e os movimentos populares, tão criminalizados em suas lutas, precisam sair da defensiva e da choradeira. Os partidos progressistas também precisam superar seu pragmatismo acovardado. A conjuntura exige respostas altivas e corajosas!

É urgente pressionar o governo Dilma Rousseff, pautado e refém da mídia, a mudar de atitude. Do contrário, não sobrará que defenda a continuidade deste projeto, moderado, de mudanças no Brasil. A direita retornará ao poder, alavancada pela mídia! Aécio Neves, o chefe de censura em Minas Gerais, será presidente! E ACM Neto, o herói da degola de Orlando Silva, será o chefe da Casa Civil!

Wikileaks aponta Wiliam Waack como informante do governo dos EUA




O repórter William Waack, da Rede Globo de Televisão, foi apontado como informante do governo americano, segundo post do blog Brasil que Vai - citando documentos sigilosos trazidos a público pelo site Wikileaks há pouco menos de dois meses.
De acordo com o texto, Waack foi indicado por membros do governo dos EUA para “sustentar posições na mídia brasileira afinadas com as grandes linhas da política externa americana”.
- Por essa razão é que se sentiu à vontade de protagonizar insólitos episódios na programação que conduz, nos quais não faltaram sequer palavrões dirigidos a autoridades do governo brasileiro.
O post informa que a política externa brasileira tem “novas orientações” que “não mais se coadunam nem com os interesses americanos, que se preocupam com o cosmopolitismo nacional, nem com os do Estado de Israel, influente no ‘stablishment’ norte- americano”. Por isso, o Departamento de Estado dos EUA “buscou fincar estacas nos meios de comunicação especializados em política internacional do Brasil” - no que seria um caso de “infiltração da CIA [a agência norte-americana de inteligência] nas instituições do país”.
O post do blog afirma ainda que os documentos divulgados pelo Wikileaks de encontros regulares de Waack com o embaixador do EUA no Brasil e com autoridades do Departamento de Estado e da Embaixada de Israel “mostram que sua atuação atende a outro comando que não aquele instalado no Jardim Botânico do Rio de Janeiro”.
Wikileaks suspende operações
O site WikiLeaks anunciou nesta segunda-feira (24) a suspensão temporária da difusão de documentos confidenciais e sigilosos para concentrar-se na arrecadação de fundos que permitam garantir a futura sobrevivência.
A página criada por Julian Assange afirma em um comunicado que se vê forçada a “suspender temporariamente as operações de publicação e a arrecadar fundos agressivamente para contra-atacar”, após o bloqueio de seus recursos pelas operadoras de cartões de crédito e outras empresas.
Companhias americanas suspenderam transações com o site após a publicação de 250 mil documentos do Departamento de Estado americano, o que causaria restrições a essas empresas.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A falta de democracia no estado de Minas Gerais

A censura da mídia mineira, o descaso com a educação, a perseguição a professores, truculência contra manifestações essa é a imagem do governo tucano de Minas Gerais.




"Deputado Estadual Rogério Correia do PT de MG faz intervenção na ALMG na sessão do dia 22 de setembro de 2011, onde discute os problemas por que passa Minas Gerais em especial a greve dos professores que ultrapassa os 100 dias"

domingo, 9 de outubro de 2011

“Enfrento Lula ou Dilma”. Aécio bebeu?


Por Altamiro Borges

Em entrevista ao jornal Estadão deste domingo (9), o senador tucano Aécio Neves lembrou as piadas dos bêbados que costumam ficar valentões. Questionado sobre o pleito presidencial de 2012, ele disse estar “pronto para disputar com qualquer candidato do campo do PT, seja Lula ou Dilma. Serão eleições com perfis diferentes e eu não temo nenhuma das duas”. Corajoso!!!

Na sequência, porém, ponderou que o debate sobre candidaturas dever ficar para “o amanhecer de 2013” e lembrou que o PSDB tem outros candidatos “fortes”. Citou os governadores Geraldo Alckmin (SP), Marconi Perillo (GO) e Beto Richa (PR). Já sobre José Serra, o seu carrapato no ninho tucano, disse que a sua pretensa postulação “terá de ser avaliada por seu capital eleitoral”.

Senador esconde as bicadas tucanas

A entrevista de Aécio Neves é pura bravata. Ela tenta esconder o inferno astral vivido por seu partido. Nos últimos dias, o PSDB perdeu três deputados federais para o recém-criado PSD de Gilberto Kassab – outros dois devem trilhar o mesmo caminho. Em alguns estados, a sigla foi simplesmente dizimada. Na capital paulista, sete vereadores tucanos já abandonaram o ninho.

Aécio tenta disfarçar a crise interna, escondendo que penas estão voando para todos os lados. “O PSDB amadureceu o suficiente para ver que, ou vamos todos unidos de verdade, ou não teremos êxito”. Bravata! Os tucanos estão se bicando de forma sangrenta. A guerra entre Alckmin e Serra recrudesceu na fase recente, como confessou o senador serrista Aloysio Nunes em seu twitter. O escândalo da corrupção das emendas na Assembléia Legislativa de São Paulo acirrou ainda mais os ânimos.

Teste do bafômetro

Em recente blitz policial, o ex-governador mineiro se recusou a fazer o teste do bafômetro. O boletim de ocorrência da Polícia do Rio Janeiro registrou que ele estaria “embriagado ou drogado”. Diante de tanta valentia – e tantas bravatas – de Aécio Neves na entrevista ao Estadão, o jornal por acaso fez um teste de bafômetro? Ou a entrevista chapa-branca só serviu mesmo como palanque eleitoral?