Na análise rasa, o número divulgado seria um grande indicador que daria conta de duas discussões ideológicas: a primeira demonstraria algum tipo de mobilidade social ascendente, em face do acesso “universal” à telefonia celular (nesse caso representada pela posse de aparelhos - sic); a segunda, seria a demonstração da superioridade da lógica privatizante.
A vida, como ela é, exige mais. O “fenômeno” da venda de mais aparelhos celulares do que a população residente não decorre da exultação com a tecnologia e a sua disponibilidade, mas de falhas e problemas do próprio “modelo”. Seja porque as pessoas adquirem mais de um aparelho para tentar equilibrar as contas altas, usando as “promoções” das operadoras; seja pela oferta delirante desses mesmos aparelhos, que se tornaram commodities, em supostas vantagens oferecidas pelas mesmas operadoras. O número de reclamações nos procons contra operadoras e fabricantes dessas commodities coloca problemas para a sociometria rasa de Aécio. As filas enfrentadas pelos consumidores, na tentativa de reparar equipamentos, que o digam. Isso sem falar nas reclamações de péssimo atendimento e a enrolação nos serviços de gerundismo telefônico ao qual recorremos, para sanar as panes, cobranças a mais e pedir explicações sobre coberturas precárias.
O custo desse serviço para o consumidor é o mais caro do mundo e a qualidade é mediana.
Mas, a rigor, não é disso que trata o artigo de Aécio Neves. Os 250 milhões de aparelhos celulares entram na prosa, apenas para que ele percorra sua via crucis.
Ele tem de saciar a fome de seu partido, que lhe cobra estatura de líder da oposição. Outra “fome” que o senador eleito por Minas Gerais tem de saciar é a da mídia que tenta ocupar o lugar do PSDB, DEM e PPS, enquanto esses partidos resolvem seus dramas de obsolescência. Ai dele quando busca a discrição própria de quem tem telhado de vidro. Os jornalões o caçam impiedosamente.
E sua tragédia se completa, quando faz a apologia de algo que está sob forte questionamento no mundo, que foi o processo de privatizações ocorrido principalmente na década de 1990. Para não pegarmos exemplos da Grécia, Espanha, Irlanda, Inglaterra etc., ficaremos com os trens urbanos no Rio de Janeiro. Privatizados há dez anos, não receberam os investimentos previstos das empresas concessionárias e agora transbordam em graves e estruturais problemas. O mesmo ocorre com várias rodovias concedidas, no “modelo” tucano: sem os aportes privados alardeados só resta aos poderes públicos ou injetar recursos para melhorar suas condições ou pressionar para a “revenda” da concessão a outras empresas. A Light (RJ) é outro exemplo do qual, passada euforia inicial de sua privatização, os prejuízos aos cofres públicos e o péssimo serviço prestado são os indicadores de que algo vai mal no paraíso do neoliberalismo.
O caminho de Aécio é duro. É péssimo exemplo quando se trata de responsabilidade fiscal, de gestão pública (Minas Gerais está quebrada) e de conduta pessoal de alguém que almeja ser presidente da República. Ele foi “poder” no Brasil, por 16 anos. Foi governador por quase oito. Tudo que falar será objeto de contestação factual, com fortes provas empíricas.
Por isso, a única coragem que ele reúne é a de blefar. Enquanto a cachoeira de fracassos de seu neoliberalismo no mundo e no Brasil não se secar, só lhe resta isso: reunir “coragens” para assinar bobagens.
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